A Colorimetria como ferramenta

O estudo de cores que integra o mundo da moda e auxilia indivíduos a valorizarem seus próprios traços

Por Renato Galardo

As ciências são extremamente essenciais para o desenvolvimento em todos os mais diversos âmbitos da civilização humana, e não seria diferente na moda. Ainda no século XIX, artistas investiram em estudos sobre as cores e suas aplicações e, a partir do século seguinte, as noções foram ainda mais aprofundadas, desencadeando o surgimento da ciência das cores, batizada de colorimetria e sendo popularizada por alguns estilistas renomados. A partir do desenvolvimento e disseminação do tema, designers e profissionais da área puderam basear-se em conteúdos matemáticos e metódicos para aplicar corretamente as diferentes misturas de cores em suas roupas, assim como saber em quais tons de pele e modelos imprimir os produtos finais. 

A impressão que certas cores valorizam mais ou menos alguém não é apenas superstição, essa é a parte onde a colorimetria adentra a realidade. Levando em conta os tons de pele, olhos, cabelos e as demais idiossincrasias de cada pessoa, a coloração pessoal constrói o perfil de cor mais harmônico ao indivíduo, sendo assim muito pertinente à indústria têxtil e a seus consumidores. Além disso, os estudos abrangem outras áreas complementares à moda, como as de beleza capilar e cosmética. 

Créditos: Manatex Têxtil 

As diferentes paletas geralmente são atribuídas às estações do ano e visam também atender às diferentes demandas por época. Contudo, o principal objetivo da colorimetria é construir um visual harmônico a partir das diferentes necessidades e detalhes particulares de cada um.  

Igor Sanches, estudante de moda do Rio de Janeiro, diz que a colorimetria é fundamental para o exercício de sua profissão. “As cores e suas harmonizações acabam representando estímulos e sensações inconscientes. Quando eu trabalho com uma cartela de cores, consigo ter uma visão estética e uma ideia melhor do que está sendo desenvolvido”, ele enfatiza. A coloração própria é algo que transcende a aparência e detalhes físicos, e leva em conta outras características como a personalidade, os gostos e os costumes da pessoa.  

Engana-se quem subestima a área, julga-a frívola ou menospreza o impacto que ela tem sobre a indústria em geral. Os estudos de coloração são fundamentados em diversos outros, e transitam entre conteúdos de física, química e até mesmo óptica, pois a análise da percepção que o olho tem sobre essas cores também é levada em consideração.  

A consultora de estilo e figurinista Nívea Faso, professora do curso de Cinema da FACHA, atribui um peso considerável à colorimetria dentro do dia a dia de sua profissão, mas não o vê como fundamental ao seu exercício: “É uma ferramenta de autoconhecimento e construção da imagem. Não é a única, mas é também importante”. Essa linha de pensamento não é incomum, e vai ao encontro de pessoas e tendências que não têm a harmonia ou a simetria como prioridades, mas recorrem à fluidez, a algo que quebra a expectativa visual ou até mesmo incomoda. Nívea ressalta: “Há pessoas que se sentem confortáveis na desarmonia, em criar contrastes, e escolhem construir seu estilo e identidade por esse caminho. O que não é errado, é apenas uma escolha”. 

As cores transcendem os ambientes, os objetos, materiais ou roupas que compõem, elas conversam com seu receptor, imprimem sentimentos, causam desconforto, felicidade, tristeza. Por isso, seu estudo e sua consideração são extremamente relevantes para diversas áreas do conhecimento, pois são a partir delas que empresas, marcas e pessoas físicas podem utilizá-las como meios de mensagem, como discursos, técnicas ou impressão de suas personalidades e características.  

As grandes marcas têm a colorimetria como importante aliada, de uma forma ou de outra. Um designer pode escolher harmonizar modelos ao resto dos elementos de um show, como pode optar por quebrar paradigmas ao escolher justamente o oposto, exibindo contrastes, embate de cores e misturas antagônicas. Designers como Alexander McQueen constantemente procuram exibir em seus shows rupturas com padrões anteriores, a fim de demonstrar evolução, braveza e ambição. Independente da forma como é realizado, o embasamento no estudo das cores é uma inteligente forma de adicionar beleza e requinte às passarelas, assim como ratificar ideias e concretizar visões inovadoras. 

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