Stalking: estamos sendo monitorados?

Foto de Capa: Pixabay

Por Ludmilla Barros

Você provavelmente já ouviu a palavra stalking ou então já se sentiu monitorado, vigiado ou intimidado por alguém? De origem inglesa, o termo significa perseguir. A palavra tornou-se popular nos últimos anos, principalmente no final dos anos 1980 para retratar a insistente perseguição de celebridades por seus fãs. Uns dos casos mais famosos de stalking da história foi a morte do ex-Beatle John Lennon, assassinado em dezembro de 1980 a tiros perto de sua residência, em Nova York, por Mark Chapman, um fã obsessivo. Este tipo de assédio cresceu ainda mais graças à Internet e o boom das redes sociais.  

A curiosidade faz parte da natureza do ser humano e deve ser saudável. Por outro lado, o indivíduo que pratica o stalking geralmente apresenta um comportamento obsessivo, repetitivo e controlador perante a vítima. É uma forma de violência presente em diferentes níveis, desde ameaças virtuais, telefonemas indesejados, e-mails, invasão de privacidade até a perseguição física, quando o agressor observa a vítima no seu local de trabalho, em espaços públicos e em supermercados, por exemplo. Há uma tensão que pode gerar graves danos psicológicos e emocionais para a pessoa que está sendo perseguida, já que a mesma fica impossibilitada de seguir com a sua rotina, além da sensação de insegurança. Há diversas motivações para esse tipo de comportamento obsessivo tais como amor, ódio, ciúme, idolatria e ego, como foi o caso do cantor John Lennon. O assassino, Mark Chapman, continua preso após 41 anos do crime. Em agosto do ano passado, a justiça norte-americana realizou uma audiência para analisar um pedido de liberdade condicional para o réu, negando tal pedido pela 11ª vez. Na ocasião, Mark Chapman declarou sua motivação para o delito: “Eu o matei (…) porque ele era muito, muito, muito famoso e eu estava muito, muito, muito em busca de glória pessoal, algo muito egoísta”.   

A Internet é uma importante ferramenta de comunicação, indispensável nos dias de hoje. Entretanto, ela pode funcionar como um ambiente fértil para a prática de crimes. Usuários mal-intencionados utilizam a premissa da invisibilidade, sentindo-se livres para compartilhar conteúdos duvidosos e atacar outras pessoas sem serem incomodados. A suposta cortina do anonimato e da impunidade estimulam o comportamento do stalker. 

cyberstalking é uma categoria do stalking que ocorre no meio eletrônico, e ambos podem se complementar. Especialistas em tecnologia recomendam cautela na vida online, como evitar o convite de desconhecidos como “amigos”. Esses indivíduos podem ser fakes. Além disso, é importante evitar compartilhar informações como a localização de fotos, rotina, local de trabalho e escola de crianças, principalmente se o perfil for público. Uma boa alternativa é gerenciar a privacidade dos posts, compartilhando conteúdos com pessoas próximas.  

No último 31 de março de 2021 foi aprovado, por unanimidade, pelo Senado Federal e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro o projeto de lei que criminaliza o stalkingDe acordo com o texto, a pena será de seis meses a dois anos de reclusão e multa. Os deputados ampliaram os casos de agravamento da pena se o crime for cometido contra criança, adolescente ou idoso, contra mulher por razões da condição do sexo feminino ou com o emprego de arma. A autora do projeto é a senadora Leila Barros (PSB-DF). 

Países como Estados Unidos, Canadá, Portugal e Alemanha já criminalizaram a prática de perseguição obsessiva. Ainda neste cenário, é importante lembrar que o público feminino é o que mais sofre com a prática de stalkingÉ crucial que haja uma legislação que ampare as mulheres, já que a violência de gênero é um fenômeno bastante presente na sociedade brasileira.   

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2017, revelaram que o Brasil ocupava a quinta posição no ranking de feminicídio em todo mundo. Um levantamento das Organizações das Nações Unidas (ONU) também de 2017, mostrou que o país concentrou 40% dos feminicídios na América Latina naquele ano. A pandemia causada pela Covid-19 vem contribuindo para o aumento dos casos de violência contra a mulher, já que o isolamento social torna a convivência das mulheres com os seus agressores ainda mais hostil. 

Em Todo Lugar conversou com a professora Danielle Machado, de 31 anos, que já praticou stalking e igualmente foi vítima.  

Você poderia nos contar um pouco sobre a sua experiência com o stalking? 

Eu sou muito curiosa. Acho que stalking parte da necessidade ou curiosidade de saber da vida de alguém. Eu já pratiquei para saber da vida atual de pessoas que não tenho mais contato e também já fui atrás para saber quem seria aquela pessoa, ou tentar entender porque ela estava me stalkeando. Quando pratico é simplesmente pela curiosidade de saber o dia a dia de alguém. Mas nem sempre a experiência é legal. Ao sofrer stalking de pessoas que já me fizeram algum mal, me sinto extremamente exposta e amedrontada. Quando são perfis suspeitos ou fakes eu até bloqueio. Em um episódio de stalking físico, eu passei por uma fase de medo extremo, sendo preciso entrar com uma medida protetiva contra a pessoa, pois até em meu trabalho essa pessoa me perseguia.  

Você nos relatou que foi vítima e que também já praticou stalking. O que te motivou a buscar maiores informações sobre a pessoa em questão? 

Bom, foram duas motivações diferentes. Quando sofri o stalking, fui atrás do perfil e de informações da pessoa para tentar entender o que a levou a querer saber da minha vida e minha rotina. Quando é alguém desconhecido, tento achar se há alguma ligação dessa pessoa com algum conhecido meu. Quando é alguém que conheço, mas que nunca me seguiu ou deixou de seguir, eu entro no perfil da pessoa para saber como está a vida dela agora.  

Já fiz stalking também quando estava conhecendo alguém, sendo namorado ou amiga mesmo, para saber mais do estilo de vida da pessoa. Muitos de nós posta nas redes sociais sobre a vida pessoal, a rotina, as preferências de lazer e até mesmo a rotina de trabalho. Nesse sentido, eu vejo o quê da vida da pessoa tem em comum com a minha. 

Na sua posição de vítima desta perseguição virtual e física, você se sente segura ao frequentar lugares públicos, inclusive antes da pandemia? 

Não. Quando sofri com o stalking presencial, fiquei muito apavorada e com medo. Me sentia sempre ameaçada, o que me fez inclusive deixar de frequentar certos locais como academia e lanchonete. Meu medo era tanto que pensei inclusive em pedir demissão, mudei a rota de saída do trabalho e nos lugares que ainda frequentava ficava sempre tensa e com medo da pessoa aparecer ali. Quando noto que algum perfil/ alguma pessoa me stalkeia com frequência, deixo de fazer postagens “ao vivo”, até salvo um vídeo ou foto da ocasião, mas deixo para postar quando não estou mais no local ou quando já estou de saída. 

A lei contra o stalking foi sancionada aqui no Brasil no último 31 de março. Você acredita que os agressores serão de fato punidos?  

Espero que sim, pois em muitos casos as consequências são muito sérias e até fatais. Porém, sinceramente, acho que não haverá punição efetiva. Digo isso porque já precisei da justiça e nem vi uma punição efetiva.  

*Entrevista realizada via aplicativo de mensagem (WhatsApp). 

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