Foto de capa: Reprodução/Nerds da Galáxia
Por Gabriel Orphão
O Made In Brazil, popularmente conhecido como MIBR, é, atualmente, a equipe de CS:GO mais famosa do Brasil, com diversos fãs ao redor do país e de todo o planeta, além de ter mais de um milhão de seguidores somando todas as suas redes sociais. É também a tag brasileira (em atividade) mais antiga do cenário do Counter-Strike, tendo sido fundada em 2003.
Os atletas
Hoje a equipe de CS:GO Masculino do MIBR é formada por cinco jogadores, um treinador e um treinador estratégico, algo que não é muito comum nas outras equipes. O awper Gustavo “yel” Knittel é o capitão do time, que também possui em seu elenco os atletas Marcelo “chelo” Cespedes, Bruno “shz” Martinelli, Daniel “danoco” Morgado, Raphael “exit” Lacerda e o experiente Ricardo “boltz” Prass. Para o comando da equipe, o MIBR conta com o coach Alessandro “Apoka” Marcucci e Renato “nak” Nakano como treinador estratégico.

Um passado glorioso
Ao se falar sobre o MIBR, é nítido que diversas pessoas lembram o glorioso passado da tag, especialmente na época do Counter-Strike 1.6, quando a equipe foi campeã mundial em 2006.
No final de 2002, uma equipe chamada ARENA, comandada por Rafael “pred” Velloso, se classificou para a disputa do CPL Summer 2003, um dos torneios mais relevantes do planeta na época. Como o cenário competitivo da versão 1.6 do jogo ainda estava nos seus primórdios era extremamente complicado as equipes obterem recursos e patrocinadores para disputarem os campeonatos em outras partes do mundo. Sabendo disso, pred pediu ajuda ao seu pai, o empresário Paulo Velloso, para que pagasse a viagem do time inteiro. Paulo concordou, desde que o filho obtivesse boas notas na escola.
Pouco tempo depois, ambos cumpriram suas promessas: Rafael conseguiu bons resultados no colégio, e Paulo bancou os custos de toda a equipe para uma viagem até Dallas, nos Estados Unidos. Então, os brasileiros Rafael “pred”, Eduardo “corassa”, Carlos “KIKOOOO”, Eduardo “eduzin” e o norueguês Jonas “bsl” foram para a disputa do campeonato.
A equipe acabou ficando em 12º lugar e recebeu dois mil dólares de premiação. Porém, embora não tenham conquistado o título, foi o suficiente para que Paulo Velloso ficasse fascinado pelo time e decidisse investir mais nos eSports, algo que apenas um pequeno grupo da população brasileira sabia do que se tratava.
O primeiro título mundial do Brasil
Após a conquista de diversos títulos importantes em 2005, como o CPL Brasil, o CPL Chile e bons resultados no ESWC Brasil 2005, o MIBR se classificou para o ESWC 2006, que era considerado o torneio mundial daquela época. Porém, antes de embarcar para acompanhar sua equipe na competição, Paulo Velloso tinha um grande desafio. Na ocasião, o Made In Brazil contava com três equipes: MIBR.sp, MIBR.rj e MIBR. Contudo apenas uma teria a chance de representar o Brasil no campeonato mundial.
Com isso, o empresário resolveu organizar uma seletiva envolvendo as três equipes para realizar a escolha de qual das lineups iria até Paris disputar o torneio. A equipe vencedora foi a MIBR.sp, composta por Bruno “ellllll”, Renato “nak”, Lincoln “fnx”, Raphael “cogu” e Carlos “KIKOOOO”.
Antes de irem até a França, uma parada na Suécia foi determinante para o sucesso da equipe. Durante cerca de um mês, os brasileiros treinaram na Inferno Online, uma lendária lan house em Estocolmo. O investimento extra valeu a pena, e o MIBR foi para o campeonato com a impressão de que poderia sair com o título.
A organização passou por duas fases de grupos e, inclusive, venceu a equipe da Pentagram G-Shock, que possuía em seu elenco jogadores que ainda estão atuando competitivamente, como os poloneses Filip “NEO” e Wiktor “TaZ”. Atualmente, os dois jogam juntos pela equipe da Honoris.
Os brasileiros ainda bateram a x6tence (Espanha) nas quartas de final, a ALTERNATE aTTaX (Alemanha) na semifinal e a Fnatic (Suécia) na grande final da competição, ganhando por 16 a 6 na “de_Inferno”, mapa favorito da equipe sueca. Com isso, o MIBR ganhou o primeiro título mundial de uma equipe brasileira na história do Counter-Strike, além de 52 mil dólares.
O destaque da equipe brasileira foi o awper Raphael “cogu”, que era um dos melhores jogadores do planeta naquela época. Paulo Velloso, inclusive, costumava dizer que a equipe seria composta sempre por cogu e mais quatro jogadores.
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Crédito: Reprodução/ESWC
O Grande retorno
Em 2012, os jogadores do MIBR optaram por sair da equipe por estarem insatisfeitos com a organização. Paulo Velloso decidiu parar de patrocinar times de Counter-Strike e, assim, encerrar as atividades da tag.
Em 2018, Noah Whinston, na época CEO da Immortals, havia dispensado os jogadores de sua equipe, que até chegaram à final do Major de Cracóvia em 2017: os brasileiros HEN1, Lucas1, steel, boltz e kNgV-, além do treinador zakk. Noah ainda tentou contratar alguns jogadores para atuarem pela Immortals, como horvy, destiny, zqk e shz, porém o time acabou não dando certo. Então, o americano entrou em contato com Paulo e adquiriu a compra da lendária tag do MIBR.
Em junho de 2018, foi realizado um evento em São Paulo que marcava a volta da organização, com a lineup que estava defendendo a equipe alemã da SK Gaming: os brasileiros Gabriel “FalleN” Toledo, Fernando “fer” Alvarenga, Marcelo “coldzera” David, Ricardo “boltz” Prass e o americano Jacky “Stewie2K” Yip.

Crédito: Reprodução/MIBR
Porém, os ótimos resultados obtidos no CS 1.6 não se repetiram no CS:GO. Desde o retorno da equipe, o MIBR conquistou apenas um título: a Zotac Cup Masters 2018, disputada em Hong Kong e que contou com a participação de times menos expressivos no cenário competitivo do Counter-Strike: Global Offensive.
Além dos péssimos resultados, algo que incomodou bastante a torcida foi o gigantesco número de trocas de jogadores na organização. De 2018 até hoje, mais de 25 atletas passaram pela equipe. Entre eles, quatro dos cinco brasileiros bicampeões mundiais de CS:GO foram jogadores do MIBR: FalleN, coldzera, TACO e fer. Apenas Lincoln “fnx” Lau não teve a oportunidade de compor o time, mas esteve presente como embaixador da organização durante um ano. O treinador que comandou o quinteto nos dois majors em que venceram, Wilton “zews” Prado, também chegou a comandar a equipe por alguns meses.
Além do quarteto bicampeão mundial, o MIBR também contou com outros grandes nomes do cenário do CS:GO: os americanos Stewie2K,Tarik e swag, os brasileiros Lucas1 e felps, o jovem argentino meyern, considerado a principal promessa dos “hermanos”, e o sérvio YNk, que atuou como treinador da equipe. O MIBR também pôde contar com a atual lineup de “O Plano”: kNgV–, V$M, leo_drk, trk e o treinador cogu, que chegou a jogar pela equipe na época do CS 1.6.
Rivalidade com a FURIA
Durante a Blast Premier Spring da América do Norte, em junho de 2020, MIBR e FURIA se enfrentaram em partida que ficou marcada por uma grande polêmica durante o mapa da Inferno. No 25º round da partida, FalleN e fer, atletas do MIBR, tiveram problemas com seus computadores, que começaram a travar durante o jogo. O round continuou e foi vencido pela equipe da FURIA. Segundo as regras do campeonato, quando acontece algum dano em jogadores no round, ele está habilitado a ocorrer, sem a necessidade de ser jogado novamente. E foi o que aconteceu, pois FalleN acertou uma molotov nos pés de Kaike “KSCERATO”, que acabou perdendo 13 pontos de vida. Ou seja, a FURIA não seria obrigada a retornar o round.
A partida foi paralisada por cerca de 45 minutos, enquanto o FalleN e fer resolviam o problema de seus computadores, e os treinadores Ricardo “dead” Sinigaglia, do MIBR, e Nicholas “Guerri” Nogueira conversavam sobre um possível retorno no round junto da administração do torneio. Durante a paralisação, FalleN postou, em sua conta no Twitter, o vídeo do momento em que aconteceram os problemas em seu computador. Em seguida, kNg comentou na publicação de seu capitão, dando a entender que a FURIA não gostaria que o round fosse retornado, e que a partida deveria continuar normalmente.
Na sequência, Jaime Pádua, CEO da FURIA, se posicionou também em sua conta no Twitter, dizendo que o round seria disputado novamente, mesmo que a regra estivesse a favor de sua equipe.
Após a partida, foi a vez de Fernando “fer” Alvarenga se posicionar. No Twitter, o jogador atacou a equipe adversária, xingando seus atletas de “merdas”.
Pouco tempo depois, fer abriu uma livestream em seu perfil na Twitch, onde desabafou e deu mais detalhes sobre o ocorrido. Segundo ele, os atletas da FURIA resolveram aguardar que o staff das duas organizações e do campeonato resolvessem o problema entre si – ausentando-se, assim, de tomar quaisquer decisões que fossem ser cobradas pelos atletas do MIBR.
“Atitude de moleque. Meu post não é para a organização. Sei que o Akkari e o Jaime são donos, mas não são meus amigos. Os jogadores da FURIA, naquele momento, foram uns merdas do c******. Eu não tenho problema em repetir isso. Quando você está jogando, quem tem a voz são os jogadores. Não tem essa de ‘vou esperar o CEO mandar uma mensagem e resolver lá fora. Eu não vou me envolver’. Pelo amor de Deus, irmão. Não tem essa de comissão técnica resolver pra mim. Você é jogador, não é boneco, fantoche”
Disse o atleta durante sua livestream.
O capitão da FURIA, Andrei “arT” Piovezan, postou em sua conta no Instagram uma sequência de stories que explicava sua versão do ocorrido. Segundo o atleta, ele abateu um jogador que estava agachado (fer) e, logo em seguida, observou outro indo em direção à base (FalleN). Assim, ele não estava ciente se, de fato, os jogadores da MIBR estavam travados.
Depois, Guerri, treinador da equipe, enviou o mesmo vídeo postado por FalleN para os seus atletas. Todos viram e, de imediato, concordaram com recomeçar o round já vencido por eles. A rivalidade continuou durante meses, até a saída de alguns atletas do MIBR, dando um clima mais ameno entre os jogadores. Porém não se pode dizer o mesmo sobre seus torcedores, que constantemente são vistos em discussões nas redes sociais.
No começo de 2021, o duelo entre as duas organizações voltou a ter uma rivalidade quente, dessa vez por conta das equipes de CS:GO Feminino de ambos os times, especialmente por conta de Bruna “bizinha” Marvila, ex-atleta da FURIA e atual jogadora do MIBR.
Considerada por muitos como a melhor jogadora de CS:GO Feminino do país, bizinha teve uma saída bem conturbada da equipe das panteras. Em outubro de 2020, o portal Draft5 noticiou que a equipe teve problemas internos na escalação, e a atleta pediu para ser movida para o banco de reservas, onde ficaria por dois meses, antes de encerrar seu vínculo com a organização. Duas semanas após a saída da FURIA, bizinha foi anunciada como a nova capitã da equipe do MIBR.
Durante a GRRRLS League, a equipe do Made In Brazil venceu as panteras por 2 a 1 na grande final da competição, e bizinha disse que a guerra contra a FURIA não havia acabado. Pouco tempo depois, após nova vitória de sua equipe, ainda na fase de grupos da competição, a atleta mandou outro recado para sua ex-organização: “Ei, FURIA. Nem tenta dar uma teladinha. Vocês nunca vão ser as mesmas sem a moto da bizinha“.
Contudo a história acabou mudando de lado no começo de março de 2021, quando as duas equipes se enfrentaram pela grande final da WESG Latam, com direito a olho no olho, por ter sido a primeira partida em lan (ou seja, em evento presencial) na Jeunesse Arena, Rio de Janeiro, disputada depois de um longo período de partidas apenas online por conta da pandemia de COVID-19. A FURIA venceu a partida por 2 a 1 e não deixou de provocar a ex-atleta da equipe, que não gostou muito.
Crédito: Twitter/Bizinha
FURIA e MIBR ainda se enfrentaram em mais uma final, dessa vez da Aorus League, e a ex-equipe de bizinha venceu mais uma partida.
O adeus do quarteto bicampeão mundial
Em julho de 2019, após péssimos resultados da organização, Marcelo “coldzera” David, bicampeão mundial de CS:GO e eleito duas vezes como melhor atleta do mundo, anunciou sua saída da lendária tag do MIBR, abandonando FalleN, fer e TACO, companheiros com quem jogou por mais de cinco anos. Para seu lugar, o MIBR contratou Lucas “Lucas1” Teles.
Em setembro de 2020, foi a vez da saída de mais três atletas. Após nova sequência de resultados ruins do time, o MIBR postou um comunicado anunciando a demissão de TACO e fer, além do treinador Dead. Por discordar da decisão da organização, o capitão FalleN pediu para ser afastado da equipe.
Uma solução alternativa
Com a saída dos atletas, o MIBR anunciou a contratação dos jogadores Vinicius “V$M” Moreira, que estava na DETONA, Leonardo “Leo_drk” Oliveira e o retorno de Lucas “Lucas1” Teles, que havia saído da equipe em dezembro de 2019. Para ocupar o posto de treinador, foi contratado o ex-campeão mundial de CS 1.6 Raphael “Cogu” Camargo. O quarteto se juntou a Vito “kNg” Giuseppe e Alencar “trk” Rossato, que já estavam na organização.
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A nova equipe acabou não obtendo nenhum título, porém demonstrou uma grande melhora no desempenho e no humor dos atletas da organização, que vibravam muito a cada round ganho, o que levou a torcida a acreditar cada vez mais nesses integrantes.
Todavia o contrato de quatro dos cinco atletas se encerrou em dezembro de 2020 e não foi renovado. Apenas Vito “kNg” e Alencar “trk” seguiram no MIBR, mas pediram para serem colocados no banco de reservas, visto que gostariam de continuar jogando com os atletas que representaram a organização no final de 2020.
Contra tudo e contra todos
No dia 15 de janeiro de 2021, o MIBR fez uma série de anúncios em suas redes sociais: seu novo uniforme, suas lineups de CS:GO Masculino e Feminino, além da música “Contra Todos”, feita em parceria da organização com o trapper Duzz.
Para representar a equipe nos principais torneios masculinos do mundo, o MIBR optou por contratar o quarteto ex-Boom, que venceu todos os campeonatos que disputou em 2020: Gustavo “yel” Knittel, Marcelo “chelo” Cespedes, Bruno “shz” Martinelli, e Ricardo “boltz” Prass. O atleta que jogou em 2020 com o novo quarteto do MIBR foi João “felps” Vasconcellos, que optou por se juntar a Epitácio “TACO” Pessoa para atuarem pela equipe sueca da Godsent. Para completar a equipe, foi contratado Daniel “Danoco” Morgado, que estava na Sharks. Alessandro “Apoka” Marcucci seguiu como treinador do quarteto e também fechou com o MIBR. O ex-atleta de CS:GO e CS 1.6 Renato “nak” Nakano foi escolhido como treinador estratégico. No dia 30 de março de 2021, o MIBR anunciou a contratação de Raphael “exit” Lacerda, que estava na equipe da Sharks, para ser o sexto jogador da organização.
Até o momento, 19 partidas foram disputadas por este elenco com a tag do MIBR, com seis vitórias e 13 derrotas. O sucesso da tag vai muito além do que se passa dentro dos servidores. O MIBR tem uma grande história por trás de tudo e motiva os mais velhos e os mais jovens a acompanharem o crescimento da organização, mesmo quando não obtém grandes resultados.