Para o Divino Mestre com carinho

Dono de um futebol único, Domingos da Guia ajudou a revolucionar o futebol brasileiro 

Foto de capa: Rafael Cruz

Por Augusto Vieira 

A leste, a Muralha da China. A oeste, Domingos da Guia. Nunca houve ou haverá zagueiro mais elegante que o Divino Mestre. Luís Pereira, Oscar, Aldair, Gamarra, Mauro Galvão, nem mesmo Thiago Silva, nenhum deles faz sombra ao sol que foi o grande Domingos. Quem viu, viu. Quem não viu, não viveu.  

Nascido no subúrbio do Rio de janeiro, Domingos Antônio da Guia estava predestinado a conquistar a América. O carioca de Bangu começou sua trajetória no esporte bretão pelo time de seu bairro. Dono de uma tranquilidade inabalável na grande área, logo chamou a atenção do Vasco da Gama, para onde se transferiu em 1933 e foi campeão carioca em 1934.  

Domingos da Guia defendendo as cores do Bangu, seu primeiro e último clube – Foto: Reprodução/UOL 

Do Vasco, partiu rumo a Montevidéu para jogar pelo Nacional. Os deuses do futebol lhe favoreceram, novamente, consagrando-o campeão uruguaio, quando também recebeu a alcunha de “El Divino Mestre“. E não parou por aí. Em seu périplo pelo cone sul, Domingos desembarcou em Buenos Aires para defender as cores do Boca Juniors e repetir sua trajetória vitoriosa ao conquistar o campeonato argentino de 1935.

Domingos da Guia vestindo a camisa do Boca Juniors, clube pelo qual foi campeão argentino em 1935 – Foto: Reprodução/Wikimedia 

De volta ao Rio de Janeiro, assinou com o Flamengo, clube no qual formou um super time ao se juntar com outros dois grandes monumentos do futebol brasileiro da era pré-Pelé: Leônidas da Silva e Fausto dos Santos, o “Maravilha Negra”. Pelo rubro-negro, foi tricampeão carioca (1939,1942 e 1943) e um dos responsáveis pela massificação do clube. Lembrando, caro leitor, que estamos tratando de uma história que se passa na virada da década de 1930 para 1940, quando o rádio, uma nova tecnologia de comunicação de massa, começa a transmitir os jogos da então capital federal para os rincões mais longínquos do país. 

Domingos da Guia vestindo o manto rubro-negro, clube pelo qual foi tricampeão estadual, (o quinto da esquerda para a direita) – Foto: Reprodução/Livro A Nação

Em 1944, aos 32 anos, Domingos sai do Flamengo para defender o inominável de Itaquera (Corinthians), onde não teve muito sucesso, e enfim encerrar seu ciclo profissional no time que o revelou, o Bangu.  

Contudo, mais que as vitórias e títulos, o grande legado de Domingos da Guia para o futebol reside na revolução promovida pelo seu jogo. Em uma época em que zagueiros se agarravam aos atacantes como selos se agarram a envelopes e livravam-se da bola como se ela lhes queimasse os pés, Domingos deixava passar o adversário enquanto lhe desarmava e depois tomava todo o tempo do mundo para tirar a pelota da zona de perigo, sem pressa, como se cultivasse uma orquídea de luxo.  

Foto: Reprodução/Futebol de Todos os Tempos

Como última contribuição para o futebol brasileiro, Domingos nos presenteou com seu filho, o não menos divino Ademir da Guia. E, como o fruto não cai longe da árvore, este também se tornou ídolo por onde passou, mas isso é história para uma outra oportunidade.  

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