Fausto dos Santos, a “Maravilha Negra” que encantou o mundo em um período de intensa discriminação racial

Foto de Capa: Rafael Cruz

Por Rafael Cruz

Nascido em Condó, no Maranhão, em 28 de janeiro de 1905, Fausto dos Santos, que viria a ser batizado como Maravilha Negra, teve uma infância difícil. Sua mãe, Dona Rosa, se mudou com a família para o Rio de Janeiro na busca de um futuro melhor. Na cidade Maravilhosa, seu filho descobriu o talento para o futebol e iniciou sua carreira no Bangu, clube tradicional da Zona Oeste. 

Alto e magro, o maranhense tinha um estilo único, e com muita elegância liderava o meio-campo. Era habilidoso, tinha boa precisão nos passes e um elevado vigor físico. Em 1926 já era titular do Bangu e demonstrava ser um craque de bola. Atuando como meio atacante se destacou nos Campeonatos Cariocas de 1926 e 1927 e despertou interesse do Vasco, para onde se transferiu em 1928 e foi Campeão Carioca em 1929.  

Vasco, campeão Carioca de 1929 – Em pé: Paschoal, Oitenta-e-quatro, Tinoco, Russinho 
Mário Matos, Fausto, Santana e Mola; agachados – Brilhante, Jaguaré e Itália. 
Crédito: observatorioracialfutebol.com.br 

Com as atuações por Bangu e Vasco, o meia conseguiu vaga também na seleção brasileira, para jogar a primeira Copa do Mundo, em 1930, no Uruguai. O Brasil fez uma campanha ruim e foi eliminado na primeira fase. Mesmo assim, Fausto conseguiu se destacar e ali ganhou o apelido de “Maravilha Negra” pela imprensa internacional, que o chamou assim por suas grandes atuações e por seu talento com a bola. 

“Um maestro em campo. Foi o único jogador brasileiro que escapou do fracasso no Mundial de 1930. Encantava os vascaínos pela elegância, visão de jogo e liderança. Até o surgimento de Zizinho, foi o melhor meio de campo da história do futebol brasileiro”.

Revista Placar, QUEM É QUEM – 581 CRAQUES DO BRASIL

Já conhecido como Maravilha Negra, fez uma excursão pela Europa defendendo a camisa do Vasco e chamou a atenção de diversos clubes do velho continente. Atraído pelos olheiros do Barcelona, foi jogar na Espanha e se tornou o primeiro brasileiro a atuar pelo clube catalão, junto com o goleiro Jaguaré. Na Catalunha, jogou 46 vezes e marcou sete gols, mas sofreu discriminação racial pelos próprios companheiros de equipe e deixou o clube. 

Na Europa, o brasileiro ainda jogou por um período de dois meses no Young Fellows, da Suíça. Depois desse período, ele voltou ao Brasil para jogar de novo no Vasco, em 1934, quando ganhou o Campeonato Carioca mais uma vez. Em 1935, foi para o Nacional de Montevidéu, onde tinha se destacado na Copa do Mundo de 1930, encantado a imprensa estrangeira e ganhado o famoso apelido de Maravilha Negra. 

“Por ser profissional e, portanto, não filiado à CBD, que na época defendia o amadorismo, Fausto não pôde ir à Copa do Mundo na Itália, em 1934. Porém, em 1935, com a mudança de mentalidade, Fausto estava de volta às seleções Carioca e Brasileira”.

Revista Placar Especial VASCO, abril/1979
O “Maravilha Negra” foi o primeiro brasileiro a jogar pelo Barcelona, ao lado do goleiro Jaguaré. Crédito: Arquivo Barcelona

Contudo, debilitado por conta de uma tuberculose, Fausto não conseguiu repetir as atuações que os uruguaios se acostumaram a ver no Mundial. Ele já não aguentava mais correr os dois tempos e foi recuado para jogar na zaga. Irritado, pediu rescisão do contrato, mas não conseguiu. Ele continuou no clube, acumulou inúmeras expulsões por sua indisciplina e terminou acusado de ter entregado um jogo. Sua passagem na capital do Uruguai durou sete meses. 

Segundo o jornalista Mário Filho, Fausto era “uma maravilha dentro de campo”, mas fora dele “era revoltado, intempestivo e até indisciplinado”. Ele levava uma vida boêmia. Não teve uma passagem duradoura em nenhum clube. A maior parte da sua carreira foi no futebol carioca. Após atuar no Bangu e no Vasco, Fausto foi para o Flamengo, em 1936, seu último clube.  

Na recém-construída Gávea, Fausto jogou ao lado de Domingos da Guia e de Leônidas da Silva, em um elenco formado por jogadores negros que fizeram o Flamengo ganhar apoio da massa e se tornar um clube popular. No rubro-negro carioca, ele também foi recuado e se irritou com o técnico Izidor Kurschner, mas ainda assim seguiu no time até 1938. 

Jornal do Brasil noticia a morte de Fausto, a “Maravilha Negra”.
Crédito: jblog.com.br 

No ano seguinte, em 1939, o Maravilha Negra teve que se afastar do futebol para tratar da tuberculose, mas não resistiu. Ele faleceu no dia 29 de março daquele ano, ainda jovem, aos 34 anos, na cidade mineira de Santos Dumont. 

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