Foto de capa: Rafael Cruz
Por Matheus Guimarães
A luta feminina por igualdade no mundo esportivo ainda é realidade. Como em toda modalidade esportiva, as diferenças, sejam elas de apoio, patrocínios, premiações e outros fatores, mostram que a mulher ainda não tem o seu devido espaço, e o confronto contra as desigualdades precisa continuar incansável.
Por isso, essa semana o especial Personalidades Esquecidas do Esporte do Em Todo Lugar conta as histórias das pioneiras nessa luta no surf feminino brasileiro, Margot Rittscher e Brigitte Mayer.
Margot Rittscher, o início do surf feminino brasileiro
Nascida em Nova York em 1910 e trazida diretamente para Santos aos 15 anos com sua família, a norte-americana naturalizada brasileira Margot Rittscher foi a primeira surfista do Brasil.
Sempre apaixonada pelo mar, enfrentou todo tipo de preconceito e, em 1936, surfou a primeira onda com o apoio e ao lado de seu irmão, Thomas Rittscher, na Praia do Gonzaga, com uma prancha de madeira chamada de ‘’tábua havaiana’’ construída por ele mesmo.

Pouco tempo depois, dominou a arte de ‘’andar sobre as águas’’ e, segundo registros, surfou até os anos 1960.
Brigitte Mayer, a profissionalização do surf feminino brasileiro
Na história do surf brasileiro, a década de 1980 ficou notabilizada por um marco alcançado pelas mulheres. Foi nesta época que Brigitte Mayer ultrapassava mais um obstáculo e tornou-se a primeira brasileira a competir no surf, em Maricá, no Rio de Janeiro.

No começo dos anos 1980, o surf ainda era um esporte extremamente machista, mas isso nunca foi um empecilho, uma vez que Brigitte surfava com suas irmãs, e todas se protegiam dentro d’água. O que hoje não é necessário que aconteça, já que as escolinhas incentivam a prática da modalidade para as mulheres.
Após romper a barreira e ser a primeira mulher a competir na década de 1980, em 1990 foi também a primeira a disputar uma etapa do Circuito Mundial de Surf, conquistando, assim, mais um marco. Além disso, abriu portas para muitas outras mulheres, servindo como pioneira.
A viagem do Circuito Mundial foi conturbada, pois a brasileira foi roubada em Madrid ainda no aeroporto. Sua mãe, que trabalhava no Consulado da Áustria, fez tudo a seu alcance para Brigitte poder seguir, e foi quando tudo mudou. Ao chegar na França para o primeiro dia do evento, a surfista ficou em nono lugar e, com esse resultado, tinha à disposição uma premiação que, se aceitasse, automaticamente estaria se profissionalizando. Contudo, consequentemente, não poderia competir na categoria amador.
O tour europeu acabou se encerrando mais cedo do que deveria, e Brigitte retornou ao Brasil antes do necessário devido a um grave acidente automobilístico que sofreu. Juntamente com a sua volta, veio o desânimo, porque não teve apoio de outras mulheres para a profissionalização do surf feminino no Brasil. Após isso, voltou a competir, amadoramente, em meados dos anos 1990.

Aos 30 anos, conquistou seu primeiro título como campeã brasileira profissional e parou de competir aos 40. Por fim, em 2019, se tornou a primeira mulher brasileira a presidir a Abrasp (Associação Brasileira de Surf Profissional), onde continuou lutando, firmemente, pela igualdade de direitos das mulheres e estimulando-as a terem voz para que a nova geração vivencie um mundo diferente do que ela viveu.