Há um século sendo praticado no Brasil, Judô tem sido fonte de medalhas para o país desde 1984

Praticando a arte Kodokan, Chiaki Ishii foi nosso primeiro judoca medalhista em uma Olimpíada. Já Aurélio Miguel foi o primeiro homem a levar o ouro, enquanto Sarah Menezes venceu pelas mulheres 

Foto de capa: Rebeca Doin 

Por Leo Bronstein e Rodrigo Glejzer 

Coragem, honra, autocontrole e respeito estão entre as pedras fundamentais de um dos esportes mais importantes do Japão. Criado em 1882 por Jigoro Kano, o Judô veio como uma variação do Jiu-jitsu, uma luta com mais de 3.600 anos de existência. Diferentemente de seu progenitor, que é mais voltado a golpes de imobilização, a arte do “caminho suave” tem seu foco em derrubar os adversários, totalmente, de costas no chão.  

No mesmo ano em que ergueu as bases do Judô, Kano também formou os primeiros discípulos ao construir o Instituto Kodokan, escola focada na formação de judocas, localizada em Shimoya, bairro da capital Tóquio. Trabalhando para popularizar sua arte marcial pelo resto do mundo, Mestre Kano viajou até a Europa e os EUA para apresentar seus métodos de combate. Em 1909, tornou-se o primeiro membro asiático do Comitê Olímpico Internacional. Cinquenta anos depois, o Judô passou a fazer parte do programa olímpico oficialmente e estreou nas Olimpíadas do Japão em 1964.  

Estátua de Jigoro Kano em frente à escola Kodokan no Japão – Foto: Yasuo Yamaguchi 

A formação dos judocas 

Os lutadores são divididos em duas categorias: principiantes (kiu) e mestres (dan). A cor da faixa utilizada na vestimenta indica o grau de aprendizado. Os iniciantes variam nos primeiros doze meses entre as cores branca, cinza, azul e amarela. Chegando nas fases intermediárias, as faixas laranja, verde, roxa e marrom são conquistadas durante dois anos de treinamento. A cor preta é usada apenas por aqueles que chegam na parte final da formação, a graduação, completada ao fim de mais cinco anos de estudos das técnicas do Judô. Caso a pessoa queira tornar-se mestra, é preciso esperar ao menos três anos até a chance de vestir vermelho e chegar ao ápice como judoca. 

Crédito: Arlan Almeida

Com o total de dez dans (graus de maestria) a serem escalados por aqueles que desejam chegar ao apogeu do Judô, a maioria que se gradua como mestre acaba parando no nono. Até hoje, menos de 100 praticantes foram agraciados com o privilégio de vestir a última faixa. No Brasil, o falecido mestre Masao Shinohara foi o primeiro e, até agora, único agraciado com a honraria. Há ainda o décimo segundo dan, posição reservada apenas ao fundador da luta, Jigoro Kano.  

As diferentes faixas usadas por principiantes e mestres no Judô – Foto: Larissa Farias 

Regras de combate e pontuação 

As lutas são praticadas em um tatame de formato quadrado (de 14 a 16 metros de lado) com duração de, no máximo, 5 minutos. Cada lutador utiliza um kimono de cor diferente, um de azul e o outro de branco. Há um árbitro central e dois auxiliares em cada ponta do tatame. O principal foco é derrubar o oponente, mas golpes de imobilização também podem ser usados para pontuar durante a disputa. Ganha aquele que conseguir a maior pontuação, variando entre yukowazari e ippon

  1. Yuko é a pontuação mais fraca, quando o atleta é projetado e cai de lado ou quando a imobilização leva de 10 a 14 segundos;  
  1. Ippon é a contagem máxima do placar e ocorre quando um golpe é aplicado com força, velocidade e controle, e o oponente cai, totalmente, com as costas sobre o tatame; ou quando há uma imobilização no adversário por 20 segundos. Sendo realizado por um dos lutadores, o combate é imediatamente encerrado;  
  1. Wazari é a pontuação intermediária, pois acontece na falta de um dos três elementos do ippon (força, velocidade e controle sobre o oponente) e tem peso maior que qualquer quantidade de yukos. Dois wazaris equivalem a um ippon. Também ocorre quando há a imobilização do adversário entre 15 e 19 segundos.  

O placar final ainda pode ser modificado ou decidido dependendo do número de punições que o judoca tiver. Habilidades que acertarem o rosto ou coloquem em risco a região do pescoço ou vértebras são, estritamente, proibidas. Também não é permitido bloquear as pernas do adversário, a fim de evitar que o mesmo aplique uma determinada técnica, ou passar a cabeça sob o braço de seu oponente com o intuito de agarrar sua perna.  Caso seja verificada alguma infração, a Comissão de Arbitragem pode aplicar as seguintes penalidades:    

  1. Shido: penalidade leve, um tipo de aviso, utilizada como critério de desempate. Cada lutador pode levar até três shidos durante a luta sem dar pontos para o adversário. Caso o combatente receba um quarto, é dado um hansoku-make e a disputa é terminada.   
  1. Hansoku-Make: além do acúmulo de quatro shidos, também pode ser dado, imediatamente, após uma violação séria das regras da competição, e o competidor é, automaticamente, desqualificado. Equivale a um ippon.  
As diferenças entre Yuko, Wazari e Ippon – Crédito: ESPN 

Próxima Olimpíada 

Durante os Jogos de 2020, as mulheres serão divididas entre os pesos até 48 kg, 52 kg, 57 kg, 63 kg, 70 kg, 78 kg e mais de 78 kg. Já os homens terão as categorias até 60 kg, 66 kg, 73 kg, 81 kg, 90 kg, 100 kg e mais de 100 kg. Também há uma disputa entre equipes mistas. Todas as competições são divididas em primeiro e segundo rounds, quartas de final, repescagem, semifinal e final. Cada lutador deverá fazer ao menos cinco combates para chegar à final. Se for cabeça de chave, não precisa lutar no primeiro round. Quem perder nas quartas tem a chance de disputar a repescagem para buscar uma das duas medalhas de bronze em disputa.  

Um dos principais destaques das últimas duas Olimpíadas, Kayla Harrison, bicampeã na categoria até 78 kg (2012 e 2016), não deve disputar o tricampeonato. A americana, atualmente, tem focado suas energias em campeonatos de artes marciais mistas (MMA) e não disputou as qualificatórias para os Jogos de Tóquio. Com nove campeonatos mundiais no currículo e duas medalhas de ouro no peito (2012 e 2016), o francês Teddy Rimel é um colosso entre os pesos-pesados e promete ser uma das estrelas do evento no Japão. No Rio de Janeiro, em 2016, ficaram no topo do pódio: 

Mulheres

  1. 48 kg: Paula Pareto (Argentina) 
  1. 52 kg: Majlinda Kelmendi (Kosovo)  
  1. 57 kg: Rafaela Silva (Brasil)  
  1. 63 kg: Tina Trstenjak (Eslovênia) 
  1. 70 kg: Haruka Tachimoto (Japão) 
  1. 78 kg: Kayla Harrison (EUA) 
  1. +78 kg: Emilie Andéol (França) 

Homens

  1. 60 kg: Beslan Mudranov (Rússia) 
  1. 66 kg: Fabio Basile (Itália) 
  1. 73 kg: Shohei Ono (Japão) 
  1. 81 kg: Khasan Khalmurzaev (Rússia) 
  1. 90 kg: Mashu Baker (Japão) 
  1. 100 kg: Lukáš Krpálek (Rep.Tcheca) 
  1. +100 kg: Teddy Riner (França) 
Uma lenda no judô, Riner tentará o tricampeonato seguido entre os pesos-pesados – Foto: Attila Kisbenedek/AFP 

O Judô no Brasil 

A modalidade começou a ser praticada no país entre os períodos de 1920 e 1930 com o surgimento das primeiras escolas de Judô, fundadas pelos imigrantes japoneses. Nomes vinculados à escola Kodokan, como Takaji Saigo e Geo Omori, tentaram abrir algumas filiais na cidade de São Paulo, mas não obtiveram sucesso na empreitada. Apenas com a abertura da Academia Ogawa, criada pelo professor recém-chegado Riuzo Ogawa em 1938, o esporte teve o impulso necessário para crescer no Brasil.  

Segundo Alexandre Velly Nunes e Katia Rubio, em artigo para a Revista Brasileira De Educação Física E Esporte, os dois primeiros Campeonatos Brasileiros de Judô foram realizados em 1954 e 1957, respectivamente no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Curiosamente, os torneios aconteceram antes mesmo da elaboração da primeira federação estadual, instituída em São Paulo em 1958, e da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), criada somente em 1969. Antes disso, as atividades de cultura japonesa eram reguladas por uma instituição chamada Ju-kendo-Renmei, concebida em 1933 e com uma filial paranaense, formada em 1937.  

A primeira medalha olímpica brasileira no judô veio três anos depois da CBJ ser reconhecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB): com Chiaki Ishii, japonês naturalizado brasileiro, no terceiro lugar do pódio dos meio-pesados nas Olimpíadas de Munique (1972). A inédita condecoração dourada veio com Aurélio Miguel vencendo a final dos meio-pesados durante os Jogos de Seul (1988). Entre as mulheres, Sarah Menezes foi a primeira brasileira a ouvir o hino nacional ao sair vitoriosa da decisão do até 48 kg em Londres (2012).  

Crédito: Arlan Almeida

Para Tóquio 2020, a CBJ já confirmou as presenças de Eric Takabatake (60 kg), Daniel Cargnin (66 kg), Eduardo Katsuhiro Barbosa (73 kg), Eduardo Yudy Santos (81 kg), Rafael Macedo (90 kg), Rafael Buzacarini (100 kg) e Rafael Silva “Baby” (+100 kg) no masculino. Pelo feminino, teremos Gabriela Chibana (48 kg), Larissa Pimenta (52 kg), Ketleyn Quadros (63 kg), Maria Portela (70 kg), Mayra Aguiar (78 kg) e Maria Suelen Altheman (+78 kg) disputando um lugar no pódio japonês. Suspensa por dois anos devido a uma acusação de doping no ano passado, Rafaela Silva não poderá lutar pelo bicampeonato.  

Campeã em 2016, Rafaela Silva está suspensa por doping e não irá ao Japão – Foto: Wander Roberto/COB/Divulgação  

Calendário

Crédito: Arlan Almeida
Crédito: Thalis Nicotte

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