Foto de Capa: Danos-De/Pixabay
Por Nathalia Machado
Com a chegada da pandemia, o fechamento de fábricas e comércios, menos carros circulando nas ruas, trabalhos e estudos funcionando de maneira remota foram fatores que contribuíram para a queda da movimentação nas grandes cidades. Notícias sobre a redução nas emissões de poluentes na atmosfera, imagens de cidades sem poluição visual, de animais silvestres caminhando pelas ruas e dos canais de Veneza com águas cristalinas e com golfinhos e cisnes nadando foram cenas que viralizaram na internet como comemoração do respiro da natureza sem as ações cotidianas dos seres humanos. Contudo, no oceano, o otimismo não é o mesmo.
Para evitar a disseminação do coronavírus, os EPIs, Equipamentos de Proteção Individual, como máscaras e luvas descartáveis, se tornaram grandes aliados da população, mas com o descarte incorreto podem gerar um aumento significativo no volume de lixo. A ONG Ocean Conservancy estima que sejam jogadas nos oceanos cerca de 129 bilhões de máscaras e 65 bilhões de luvas plásticas por mês, e podem levar centenas de anos para se decompor. Com esse aumento na poluição, estima-se que até 2050 terá mais lixo do que peixes nos mares.
Segundo a pesquisadora e bióloga marinha Letícia Gonçalves, a partir do momento em que o resíduo é descartado, ele inicia um percurso que tem destino incerto, com consequências imensuráveis. Ao chegar no oceano, mesmo quando o animal não come o material, apenas ficar emaranhado ao objeto já pode levá-lo à morte, por não conseguir sair em busca de alimentos. Outra preocupação são os fragmentos dos microplásticos, gerados na decomposição dos EPIs, que são ingeridos por animais marinhos e dão a eles uma falsa sensação de estarem saciados, os levando, muitas vezes, à morte. Além de contribuir para que o plástico esteja cada vez mais presente na cadeia alimentar, inclusive na alimentação humana.
“O lixo hospitalar, por exemplo, tem o descarte correto e não acaba no mar. O problema está nos EPIs utilizados pela população, que acaba descartando de qualquer maneira. O ideal é que as máscaras, descartáveis ou de pano, sejam desprezadas no lixo comum, não no reciclado, para evitar novos focos de transmissão do vírus e que pessoas que manejam esses resíduos sejam contaminadas. E nunca descartar na rua, para evitar que elas acabem em rios e entupa bueiros”, afirma a bióloga.
Letícia acredita que a não utilização dos produtos descartáveis seja a melhor maneira de frear os números de poluição nos mares. “A ideia não é que as pessoas parem de se protegerem durante a pandemia, mas, àqueles que não trabalham em serviços de saúde, optem por máscaras reutilizáveis e prefiram higienizar as mãos com sabão e álcool em vez de luvas”, finaliza.