Conheça a Bocha adaptada: esperança de medalhas para o Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio

Foto de capa: Rebeca Doin 

Por Matheus Hartmann 

A Bocha é uma modalidade que abre portas para pessoas com grau severo de comprometimento motor e/ou múltiplo e está em mais de 50 países em todo o mundo. Ela pode ser jogada individualmente, em duplas ou em equipes, e é mista – homens e mulheres competem juntos e igualmente. 

É reconhecida sua origem na Grécia, quando havia a prática de lançar grandes pedras em uma pedra alvo menor, mas somente na década de 1970 este esporte foi resgatado pelos países nórdicos com o fim de adaptá-lo para pessoas com deficiência. 

No início, era voltado apenas para pessoas com paralisia cerebral, com um severo grau de comprometimento motor (os quatro membros afetados e o uso de cadeira de rodas). Atualmente, pessoas com outras deficiências também podem competir, desde que inseridas em classe específica e que apresentem também o mesmo grau de deficiência exigida e comprovada. 

O jogo de bocha tornou-se um Esporte Paralímpico em 1984. A sua finalidade principal é a mesma da bocha convencional, ou seja, encostar o maior número de bolas na bola branca alvo, também denominada Jack

Crédito: Rebeca Doin

No Brasil, o jogo de bocha ficou conhecido a partir de 1995, quando dois atletas participaram dos Jogos Parapan-Americanos de Mar Del Plata e consagraram-se campeões na modalidade. Em junho de 1996, dando prosseguimento ao Programa de Fomento Esportivo, a Associação Nacional de Desporto para Deficientes – ANDE, lançou o Projeto “Boccia Para Portadores de Paralisia Cerebral Severa”, em Curitiba, onde se fizeram representar cinco estados: Paraná, com duas entidades; Rio de Janeiro, com cinco entidades; e Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo, com uma entidade cada.  

Foto: Reprodução/Associação Nacional de Desporto para Deficientes – ANDE 

REGRAS  

São utilizadas 13 bolas, sendo seis azuis, seis vermelhas e uma branca – um pouco menores daquelas usadas na bocha convencional. Todas são confeccionadas com fibra sintética e pesam cerca de 280g.  

Durante o jogo, a arbitragem utiliza um indicador de cor vermelho/azul, similar a uma raquete de tênis de mesa, para sinalizar ao atleta durante o início de um lançamento ou jogada. Para medir a distância das bolas coloridas da bola alvo, é utilizada uma trena ou compasso. 

Os atletas ficam sentados em cadeiras de rodas e limitados a um espaço demarcado para fazer os arremessos. É permitido usar as mãos, os pés e instrumentos de auxílio, além de contar com ajudantes – os “calheiros”, no caso dos atletas com maior comprometimento dos membros. 

O objetivo é aproximar o maior número de bolas coloridas da branca. Para isso, é preciso habilidade e eficiência, além, é claro, das técnicas e táticas adequadas. A habilidade e a inteligência tornam-se fundamentais no desenvolvimento das jogadas, assistindo-se muitas vezes a um verdadeiro espetáculo de alternância da vantagem, pela aplicação de técnicas e táticas adequadas e desenvolvidas a cada circunstância. 

CLASSES DA BOCHA 

Todos os atletas da bocha competem em cadeira de rodas. Na classificação funcional, eles são divididos em quatro classes, de acordo com o grau da deficiência e da necessidade de auxílio ou não. No caso dos atletas com maior grau de comprometimento, é permitido o uso de uma calha para dar mais propulsão à bola. Os tetraplégicos, por exemplo, que não conseguem movimentar os braços ou as pernas, usam uma faixa ou capacete na cabeça com uma agulha na ponta. O calheiro posiciona a canaleta à sua frente para que ele empurre a bola pelo instrumento com a cabeça. Em alguns casos, o calheiro acaba sendo a mãe ou o pai do atleta. 

A classificação também segue as normas e regras da International Boccia Commission (IBC), sendo que cada classe é denominada pela funcionalidade de cada jogador. Os atletas são classificados em quatro classes distintas, chamadas de BC1, BC2, BC3 e BC4. O termo BC significa Boccia Classification, e suas numerações referem-se a um determinado grau de comprometimento motor por parte do atleta. As classes BC1 e BC2 são, estritamente, designadas para praticantes com paralisia cerebral. 

A classe BC1 é composta por pessoas com Tetraplegia Espástica severa com ou sem Atetose, na qual há pouca amplitude de movimentos ou força funcional em todos os movimentos nas extremidades e no tronco. Dependem da cadeira de rodas e precisam de auxílio durante o jogo, assim como de assistência tanto para a remoção da cadeira de rodas, quanto para a aquisição da bola. 
A classe BC2 é composta por pessoas diagnosticados com Quadriplegia Espástica ou com Atetose/Ataxia, os mesmos itens relacionados à classe BC1, com a única diferença sendo que não recebem assistência e podem impulsionar a cadeira de rodas manualmente.  

Na classe BC3, estão os atletas que se encaixam no perfil físico de um atleta BC1 ou BC4, mas que não conseguem segurar/jogar a bola. Podem ser elegíveis como um atleta BC3 desde que atinjam os critérios estabelecidos. São elegíveis para esta categoria atletas com paralisia cerebral e de condições similares, com origem não cerebral.  

Os jogadores desta classe apresentam disfunção locomotora muito grave nas quatro extremidades – não têm uma ação sustentada ou liberada e, embora possam ter movimento do braço, têm uma amplitude de movimento insuficiente para impulsionar uma bola de bocha para a quadra. O jogador é assistido pelo calheiro, que tem como função direcionar a calha (dispositivo auxiliar), pela qual a bola será lançada, seguindo, rigorosamente, as indicações do jogador (de acordo com a direção que o atleta indicar). 

E, por fim, na classe BC4, ficam os atletas que são diagnosticados com condições de origem não cerebral central que não possuem espasticidade, ataxia ou atetose. Os jogadores nesta classe apresentam disfunção locomotora grave de todas as quatro extremidades, além de controle do tronco. Eles podem demonstrar destreza suficiente para jogar a bola na quadra. Assim como na BC2, não recebem nenhuma assistência. 

Importante ressaltar o papel da comissão técnica reconhecendo a capacidade funcional de seus atletas, para que não se confunda incapacidade de realizar um movimento com a falta de treinamento para a realização desse mesmo movimento. Por esse motivo, os exercícios preliminares, de adequação, percepção e a intimidade com o equipamento são de extrema importância e devem ser, exaustivamente, solicitados, assim como o acompanhamento e o contato direto com o fisioterapeuta e/ou médico responsável pelo atleta. 

DELEGAÇÃO E EXPECTATIVAS 

A bocha brasileira contará com a participação de dez atletas, dentre eles os medalhistas paralímpicos Maciel Santos, Eliseu dos Santos e Evani Calado. A equipe vai para os Jogos de Tóquio completa, com atletas em todas as categorias. Foram classificados atletas para as disputas por equipes BC1/BC2 e pares em BC3 e BC4. O Brasil também garantiu uma vaga no individual de cada classe, totalizando nove. Uma última vaga veio via ranking mundial e foi nominal. As outras foram definidas pelo país. 

E, com as escolhas definidas, os dez nomes brasileiros da bocha nos Jogos Paralímpicos de Tóquio serão: Andreza Vitória de Oliveira, Eliseu dos Santos, Ercileide Laurinda, Evani Calado, Evelyn de Oliveira, José Carlos Chagas, Maciel Santos, Marcelo dos Santos, Mateus Carvalho e Natali de Faria. Outros sete nomes estarão em Tóquio como calheiros. 

Crédito: Rebeca Doin

Além de buscar os resultados da Rio 2016, vale ficar de olho em Maciel Santos, que possui experiência e um currículo invejável. Maciel foi campeão Paralímpico em Londres 2012, bicampeão Parapan-Americano, tricampeão da América, campeão sul-americano e 16 vezes campeão brasileiro. Com isso, ele busca trazer mais uma medalha para a sua coleção.  

Atleta Maciel Santos, grande esperança de medalha brasileira em Tóquio – Foto: Reprodução/ANDE 

Mas a disputa será bem acirrada, pois países da Ásia e Europa costumam chegar com força. Tailândia, Japão, China e Coreia do Sul pelo continente asiático, e Reino Unido, Eslováquia e Rússia pelo europeu possuem atletas bem colocados no ranking. O calendário completo de campeonatos e resultados pode ser encontrado nos sites da ANDE e da Federação Internacional de Bocha (BISfed)

A bocha estreará nos Jogos Paralímpicos no dia 27 de agosto a partir das 21h30, horário de Brasília, e vai até o dia 4 de setembro. Os jogos serão disputados na Arena Ariake, em Tóquio.  

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