Por Lise de Paula
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição de saúde caracterizada por dificuldades na comunicação social e comportamento, existindo vários subtipos do transtorno que afetam em forma e intensidade diferentes os indivíduos com autismo.
Estabelecido em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU), a data 2 de abril marca o Dia Mundial da Conscientização do Autismo e tem por objetivo informar para a população sobre o autismo para mitigar a discriminação que cerca as pessoas diagnosticadas com o TEA.
Na FACHA, o Núcleo de Apoio Psicopedagógico (NAP) atua no auxílio aos alunos com necessidades educacionais adaptadas. A professora, psicóloga e coordenadora do NAP Maria Cristina Chagas ressalta que a instituição sempre teve em seu contexto histórico a sensibilização da inclusão social. Atualmente, os autistas são vistos, pela legislação brasileira, como indivíduos com deficiência. A professora explica que esse tipo de deficiência é caracterizado por uma limitação na esfera social (competências, habilidades e atitudes), dividida em vários subtipos, por isso sendo caracterizada como um espectro. As pessoas portadoras costumam ser estigmatizadas e consideradas como não aptas para uma escolarização. Entretanto, com o avanço das pesquisas, dos estudos e a promulgação da lei da inclusão, em 2015, ficou salientado que, dependendo do grau de autismo, autistas são capazes de “aflorar suas potencialidades e contribuírem para alguma área da sociedade (música, cultura, ciência, entre outros)”, exemplifica Maria Cristina.
Ela explicou que a realidade da instituição é a apresentação de um diagnóstico para poder ser atendido pelo NAP, ou seja, faz-se necessário um laudo de respaldo para o aluno ser acompanhado. A profissional conta que até o momento o NAP já atendeu três alunos diagnosticados com autismo matriculados nos cursos de Jornalismo, Cinema e Publicidade, “pode parecer pouco, mas ao mesmo tempo expressa uma grandiosidade, na hora da colação de grau, ter três alunos que anteriormente, no passado, eram excluídos da sociedade”. A psicóloga informa que a inclusão está na possibilidade desses alunos terem acesso a todo o conteúdo e a todas as experiências da faculdade, que de forma adaptada, possibilita a inclusão dessas pessoas em um sistema acadêmico que a princípio não foi feito para elas. Ela ainda diz que “é muito bom que seja o ano inteiro nessa conscientização, e que isso não se incluí apenas ao autismo, mas todos que se encaixam no nosso contexto das leis da diversidade da nossa sociedade, que haja mais empatia para retirar essa construção desse olhar que é estigmatizado, de que existe um protocolo do autismo.”
A especialista ressalta a existência de um protocolo do autismo, dependendo do espectro, por esse configurar em alguns casos o déficit de socialização, as dificuldades cognitivas, a não verbalização, entre outros. Mas, faz-se necessário estimular que outras potencialidades aflorem. Cristina cita um ex-aluno FACHA autista que, no quinto período, já estava participando dos grupos e, ao final do curso, foi capaz de apresentar o próprio TCC.
A profissional frisou a família como o primeiro grupo social e ressaltou a importância da aceitação do filho com esse diagnóstico, do primeiro grupo social ser, também, o primeiro a encorajar e acreditar que esse filho ou filha pode ser o que ele desejar ser. Então, em suas palavras, o NAP possui muita parceria com a família. A coordenadora citou o estímulo e o apoio familiar como algo necessário na base da família para que o autista possa trilhar o seu caminho, salientando que o sonho da graduação não pode ser da família, e sim do próprio aluno e, uma vez que ele decidir seguir esse caminho, é de extrema importância que ele receba o apoio necessário, por isso ela ressalta que a comunicação com a faculdade deve ser transparente e constante para que esse aluno possa se desenvolver da melhor forma possível em condições adequadas para o seu crescimento acadêmico e profissional. Ao relembrar da colação de grau deste aluno, Cristina conta que ficou muito emocionada ao ver que tinha um pouquinho do NAP ali presente. A professora completou dizendo que o NAP não é paternalista ou maternalista, que ele existe apenas para fornecer as condições para que o aluno possa caminhar sozinho.
Em uma pesquisa realizada pela Revista Educação Social, foi constatado que a maioria dos alunos autistas ingressados no Ensino Superior sofrem com o desconhecimento do TEA por parte dos colegas e professores. Entre as ações do NAP na Facha, Cristina informa que o NAP oferece dois eventos, tanto no primeiro quanto no segundo semestre, com foco em saúde mental. Ela reforça que “se todos não se unirem em prol de um único objetivo a coisa não anda”, por isso, o NAP tem como objetivo promover palestras para a conscientização dos alunos. Ela atesta que o processo de conscientização se inicia na portaria, passa pelo segurança, pela secretaria, pelos profissionais de conservação de limpeza, enfim, todos precisam fazer parte desse processo de conscientização e inclusão.
A psicóloga deixou uma reflexão: “é excelente perceber os desafios, e transformar as vezes os muros em pontes, você vai atravessar esse obstáculo, vai olhar pra trás e pensar estou de outro lado de um caminho que eu quero, então queria deixar isso de reflexão.”
A coordenadora do NAP está presente na FACHA todas as quartas-feiras para atender os alunos da FACHA.