O mal de Parkinson e seus desdobramentos

Por Luíza Quintanilha

A Doença de Parkinson, que foi descoberta há mais de 200 anos, é um distúrbio neurológico progressivo que atinge o sistema nervoso central comprometendo os movimentos. É mais comum aparecer a partir dos 55 anos de idade. No Parkinson ocorre a degeneração de células cerebrais em uma área do cérebro chamada substância negra, que é responsável pela produção de dopamina, um neurotransmissor que entre suas funções é controlar os movimentos, por isso o surgimento de tremores. 

Ainda é uma doença a ser muito estudada, principalmente por não ter cura, com isso é normal o surgimento de algumas dúvidas. 

Segundo o Doutor Luis Fernando Vilhena, neurologista, o diagnóstico é feito por exame clínico, também são necessários exames como a ressonância magnética, ultrassom transcraniano e cintilografia. Devido à sua experiência, ele diz que geralmente o portador da doença procura o médico em função de distúrbios motores, na maioria das vezes os tremores, mas quando procuram, a doença já havia se iniciado com sintomas não motores, como a prisão de ventre e distúrbios de sono, com esse quadro de sintomas o diagnóstico se torna difícil, por serem sintomas comuns em diversas pessoas. São 5 estágios da doença e muitos sintomas, atingindo cada portador da doença de forma diferente, sendo o quinto estágio o mais avançado. 

Ele também explica que por tratar-se de uma doença degenerativa evolutiva progressiva, a enfermidade avança em estágios principalmente para efeitos práticos na abordagem clínica. Dificilmente o acometido permanece em um único estágio durante toda a vida, pois a característica é a evolução progressiva. No entanto, não há uma característica inexorável e certa da mesma forma em todos os doentes. 

O medo aparece trazendo junto com ele a reflexão do quanto a doença pode ser limitante, principalmente sem o tratamento adequado.  

O doutor Luis Fernando Vilhena diz que “em tese não há restrições de atividades, sendo que em fases iniciais e sempre que possível devemos estimular a manter-se ativo”, devido ao caráter progressivo evolutivo da enfermidade nas fases mais avançadas pode haver comprometimento de habilidades essenciais como o equilíbrio, postura, andar. E pode interferir em muitas atividades até mesmo básicas como vestir-se ou mesmo alimentar-se sozinho. “O que não se deve fazer é se entregar por achar que a doença não tem cura. Não ter cura não significa não ter tratamento”, tranquiliza o doutor Luis Fernando. 

O médico especialista alega também que o tratamento pode ser farmacológico ou não. Sobretudo à base de drogas dopaminérgicas que aumentam a dopamina, neurotransmissor em deficiência na doença.  Um exemplo é a levodopa sob o nome comercial de Prolopa. No tratamento não farmacológico, a atividade física e manter-se ativo com ajuda de fisioterapia e fonoaudiologia.  

O tratamento é sintomático, porque não existem agentes curativos ou modificadores da doença disponíveis. Foi projetado para suplementar os depósitos de dopamina esgotados na substância negra, de maneira a minimizar ou eliminar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. O início é baseado na gravidade dos sintomas. O farmacológico deve ser acompanhado pela fisioterapia e terapia ocupacional quando necessário para o treinamento da marcha e do equilíbrio, alongamento e exercícios de fortalecimento. Os pacientes com doença leve podem optar por adiar o tratamento até que a incapacidade ocorra. Existem pesquisas em andamento para desenvolver agentes que desacelerem a evolução da doença, revertam ou, até mesmo, previnam a perda neuronal, identificando grupos de pacientes em risco e administrando agentes neuroprotetores.  

O médico conta que existem diversas pesquisas e estudos inovadores em andamento como: terapia com células-tronco, terapias genéticas, imunoterapias com vacinas, além de medicamentos sintomáticos e neuroprotetores. Além de várias abordagens cirúrgicas, como marcapasso, ablação e os já citados antes, temos técnicas não invasivas como terapias por ultrassom focado nos núcleos da base. No futuro isso pode resultar em tratamentos mais eficazes aos pacientes ou até mesmo chegar na tão sonhada cura. 

O emocional dos pacientes é uma das questões mais delicadas que envolvem a doença, o índice dos que desenvolvem depressão é alta, por isso na opinião do doutor Luis Fernando Vilhena, o apoio emocional com estimulação e interação social são essenciais em conjunto com medidas farmacológicas ou não. Aqui se confundem os sintomas da doença como lentidão ou face pouco expressiva (hipomimia), com os da consequência da limitação que tornam o doente mais dependente e inseguro como as flutuações da doença e movimentos involuntários. 

Parkinson tem faixa etária? 

Por ainda não existir cura, o diagnóstico vem com um grande peso, o portador vai precisar de uma forte rede de apoio e tentar se manter ativo. Apesar da doença ser mais comum entre os idosos, esse não foi o caso da renomada jornalista Renata Capucci. Ela foi diagnosticada com Parkinson em 2018, com 45 anos, porém levou 4 anos para a jornalista conseguir falar sobre o seu diagnóstico abertamente, sua maior motivação foi encorajar outras pessoas que estão passando pela mesma situação. Renata conta que começou a mancar durante as gravações do programa PopStar sem perceber e que foi alertada por pessoas que a conheciam, mesmo com fisioterapia nada mudou, e então, depois de um tempo, foi surpreendida ao sentir seu braço subir sozinho enrijecido, na emergência neurológica do hospital acompanhada de seu marido que é médico, Renata teve a concretização de seu diagnóstico. Apesar de sua trajetória difícil, passando pela fase de negação e até mesmo uma forte depressão, Renata se sente orgulhosa de sua evolução, hoje se sente feliz e afirma: “senhor Parkinson, eu tenho você, você não me tem”. E isso diz muito como ela consegue encarar a doença de frente, inspirando todos ao seu redor, no seu Instagram sua rotina de exercício é sempre compartilhada. O exercício é um grande aliado do Parkinson, pois já foi comprovado que ajuda na evolução da doença, auxilia no desenvolvimento da função pulmonar, fortalecimento muscular, melhora o equilíbrio e a marcha, ou seja, ajuda na autonomia dos portadores de Parkinson. 

Uma dúvida frequente sobre o Parkinson é se realmente tem o fator genético, muitos se perguntam se é obrigatoriamente hereditário. E segundo a Dra. Mariana Mascovitch também neurologista, especialista em distúrbios do movimento, diz que “85% a 90% dos pacientes têm a doença sem ter uma causa conhecida, já os 10% a 15% dos pacientes têm sim o fator genético, mas nem sempre quando o paciente tem uma alteração genética, quer dizer que ele vá desenvolver a doença”, sendo assim o meio ambiente e alguns hábitos terão influência em quem tem a predisposição, a falta de exercício, o tabagismo, a poluição etc. Ela deixa claro que não é porque um familiar seu tem, que você necessariamente vai ter, ou seja, na maioria dos casos não é hereditário. Mas ainda há muito a ser descoberto sobre o Parkinson e suas causas. 

Essa dúvida costuma ser comum, principalmente por aqueles com casos existentes na família. Com o avanço da idade, a enfermidade pode se tornar mais agressiva e o portador depende de cuidados básicos diários, por isso uma rede forte de apoio é essencial.  

O diagnóstico é muito difícil para a família também, especialmente para quem cuida do portador. Breno Padilha Borges dos Santos, aluno de jornalismo da Facha, conta que seu pai de 71 anos é portador de Parkinson e descobriu a doença há mais de 10 anos, os sintomas foram percebidos quando sua mobilidade piorou e tremores começaram a surgir, infelizmente a ajuda médica só veio após 2 anos, ele tinha muito medo de receber um diagnóstico definitivo que fosse ruim e se recusava ir ao hospital. Breno diz que é cada vez mais difícil conviver com a enfermidade que atinge seu pai, pois parece que piora a cada dia e é preciso ter muita paciência para saber lidar. A relação familiar se tornou complicada, pois o portador da doença não compreende que não pode mais fazer atividades, que antes conseguia, mas felizmente ele vem se mantendo ativo, gosta de ter seu momento na sauna, praticar exercícios, o que é de extrema importância para quem tem a doença e no seu tempo livre adora assistir filmes de ação. Breno ajuda seu pai como pode, fazendo compras no supermercado e o levando em consultas médicas.  

Parkinson e a criatividade andam lado a lado 

“após mais de um ano com sua rotina diária de desenhos, ele conseguia fazer pequenos bonecos sem tremer”

Um estudo liderado por Rivka Inzelberg, pesquisadora israelense e publicado na revista Annals of Neurology, documenta a criatividade excepcional de parkinsonianos e demonstra definitivamente que eles são mais criativos que seus pares saudáveis. Ela relatou dois fatores importantes, as pessoas que têm Parkinson teriam um interesse especial na arte e nos passatempos criativos incompatíveis com suas limitações físicas, segundo ela, pacientes que ingerem altas doses de medicação eram ainda mais criativos que os menos medicados. 

Também ficou comprovado cientificamente que a música serve como terapia para os pacientes, além do benefício psicológico, surge melhoria na coordenação motora, no movimento funcional, consciência postural e enriquecimento da voz e fala. 

 A psicóloga Cecília Linhares compartilhou a experiência adquirida com o próprio pai, que desenvolveu sua criatividade através do desenho com o avanço da doença. Segundo ela, “a atividade era muito benéfica, inclusive durante o processo de desenhar os tremores eram quase imperceptíveis, após mais de um ano com sua rotina diária de desenhos, ele conseguia fazer pequenos bonecos sem tremer”. Seu pai deixou um legado riquíssimo e seus desenhos já apareceram em marcas grandes como Havaianas e Faber-Castell, como sua grande incentivadora, Cecília possui vários desenhos do pai em forma de itens, como capas de almofadas, quadros, canecas, entre outros. As ilustrações possuem cores vivas e todos os personagens são únicos, também é interessante observar a precisão de seus traços. 

Veja a seguir o depoimento e algumas ilustrações do seu pai, João Carlos Linhares: 

“Devo me apresentar. 

Ainda mais porque nunca imaginei pertencer à classe artística. 

Por vocação, definida desde o berço, fui a vida toda engenheiro 

civil; e nunca em 40 anos de trabalho fugi desta especialidade. 

Aposentar é normalmente um drama. 

A maioria passa por esse período da vida, a atropelar baratas pelas 

moradias onde vivem, até o dia da prestação de contas. 

Por não saber ficar parado, e após uma fratura de fêmur, vi-me na 

condição de ficar sem poder andar por no mínimo 3 meses. 

Desandei então a rabiscar bonecos, no princípio de maneira 

espontânea e sempre liberto de limitações técnicas (proporção, 

estética, perspectiva etc.). 

Nunca fiz qualquer curso de desenho, e em princípio não desejo 

fazê-lo, embora pronto a analisar esta opção. 

Por outro lado, carrego comigo a necessidade de controlar um 

tremor de mãos por conta do PARKINSON, mal com o qual convivo há 

15 anos. 

Após mais de 1 ano de desenhos diários, consigo hoje, fazer 

bonecos, bem pequenos, sem tremer. 

O destino desse trabalho seria o arquivo, não fosse uma amiga de 

uma de minhas filhas, artista plástica por vocação, propor-me tornar 

público o meu trabalho. 

E com isso encontro um caminho para preencher meu tempo.” 

Quanto mais rápido forem percebidos os sinais, melhor qualidade de vida terá o paciente, portanto fique atento aos sintomas. Procurar um médico assim que possível para ter um diagnóstico assertivo e um tratamento de acordo com o estágio da doença, manter suas atividades intelectuais em dia, e ter constância nos exercícios físicos será essencial, se atente também a qualquer perda de expressão facial e piscar dos olhos menos frequentes. Envie essa matéria para amigos e familiares, seu conhecimento através dessa leitura pode ajudar alguém!  

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