A Rússia continua banida de competições esportivas internacionais, como as Olimpíadas de Tóquio e a Copa do Mundo do Qatar

Após recurso, russos conseguem diminuir pena de quatro para dois anos, mas não evitam que seus atletas sejam obrigados a competir sob bandeira neutra

por Rodrigo Glejzer 

Em julgamento ocorrido em Zurique, na Suíça, no dia 17 de dezembro de 2020, a Corte Arbitral do Esporte (CAS) manteve as punições às comitivas internacionais russas até dezembro de 2022. Após inicialmente ser condenada a quatro anos de exclusão, em audiência no dia 09 de dezembro, a Rússia, através de sua agência antidoping, moveu um recurso e conseguiu reduzir a pena em dois anos. Desta forma o país está fora dos dois próximos grandes eventos esportivos: as Olimpíadas de Tóquio em 2021 e a Copa do Mundo no Qatar em 2022.  

Entretanto, os atletas russos não estão totalmente descartados das competições. Os que não tiverem problemas envolvendo doping podem disputar os torneios, contanto que o façam através de uma bandeira neutra e sem direito a hino caso consigam vencer algum pódio. No dia 29 de julho de 2020, Yelena Isinbayeva, multicampeã do atletismo e uma das principais figuras do esporte russo, já tinha ido a público pedir para que o Comitê Olímpico Internacional (COI) não prive os atletas de participarem das provas.  

“Em nossa opinião, o castigo deve ser aplicado para a federação, não para os atletas. Nos privar da oportunidade de atuar em competições internacionais é uma punição inaceitável e excessiva, aplicando o princípio da responsabilidade coletiva, forçando-nos a assumir erros cometidos por terceiros”, pontuou Isinbayeva em suas redes sociais.  

A bicampeã olímpica Yelena Isinbayeva é uma das principais vozes do desporto russo contra a punição a todos os atletas do país – Foto: Sergei Kapukhin/Reuters

Histórico de doping na Rússia

A condenação não é uma novidade na história do esporte russo, que inclusive atualmente mantém uma verdadeira batalha contra a Agência Mundial Antidoping (WADA). Desde 2014, quando a Rússia sediou e liderou o quadro de medalhas das Olimpíadas de inverno de Sochi, uma sucessão de investigações aconteceu. Tudo começou após o casal Vitaly Stepanov, ex oficial da agência antidoping russa (Rusada), e Yulia Stepanov, atleta dos 800m rasos, decidirem denunciar os esquemas internos para trocar e esconder os resultados alterados por substâncias ilegais.  

Nos anos seguintes, 2015 e 2016, a Rusada não só chegou a ter seu laboratório de testes fechada pela WADA, como um de seus diretores, Grigory Rodchenkov, reafirmou as acusações ao pontuar que várias vezes trocou os testes positivos por  negativos na tentativa de acobertar o esquema não só em Sochi, mas também em outros grandes eventos esportivos. A principal consequência foi a redução da comitiva russa nas Olimpíadas sediadas no Rio de Janeiro, com toda a sua equipe de levantamento de peso banida e todos os atletas paraolímpicos impedidos de participarem. No atletismo apenas Darya Klishina teve permissão para disputar, já que seus treinamentos eram realizados nos Estados Unidos. Mesmo limitada, a equipe russa ainda viria a ficar em quarto no quadro de medalhas.  

Em 2017, as punições foram intensificadas e agora os atletas russos poderiam apenas competir sob bandeira neutra. Foi o caso de Mariya Lasitskene, que ganhou o ouro no campeonato mundial de atletismo em Londres, no salto em altura, e não pode ouvir o próprio hino nacional durante a execução da premiação.  

Darya Klishina e Mariya Lasitskene são algumas das atletas que precisam lidar com o escândalo russo de doping – Foto: Reprodução

Todo o planejamento para fraudar os exames de doping foi discutido e esmiuçado pelo documentário “Ícaro”, dirigido por Bryan Fogel e distribuído pela Netflix. Nele, Fogel atua como ciclista amador e arma junto a Grigory Rodchenkov planos para juntos conseguirem burlar os sistemas de doping nas competições. Durante as filmagens, o ex-diretor da Rusada expõe ter sido contratado após a baixa performance russa nas Olimpíadas de inverno no Canadá, um décimo primeiro lugar com apenas três medalhas douradas. 

Um caso único para o futebol 

A Copa do Mundo já teve disputa entre países divididos, como as Alemanhas Ocidental e Oriental em 1974, e “fantasmas”, representados pela Sérvia e Montenegro, que mesmo após a separação disputaram juntas a fase de grupos em 2006. Todavia, bandeira e uniformes neutros não entram nos planos, pois não há precedente conhecido de uma equipe competindo internacionalmente sem ao menos representar uma nação, associada ou não à Federação Internacional de Futebol (FIFA).  

Antes da redução da punição, a FIFA já tinha a pretensão de entrar em contato com a WADA para discutir a extensão da decisão diante do futebol. Com o pouco tempo que separa o início da Copa, novembro de 2022, e o término da suspensão, dezembro do mesmo ano, uma rodada de negociações entre ambas as partes deve acontecer para selar os parâmetros para uma possível participação russa no Qatar. 

Seleção Russa pode acabar tendo que jogar de forma neutra caso se classifique para a Copa no Qatar em 2022 – Foto: Franck Fife/AFP

Em meio a este caos, a participação da Rússia na Eurocopa de 2021 não está ameaçada. A UEFA, responsável pelo torneio europeu, não é considerada pela WADA como encarregada de um “grande evento global”, diferentemente da FIFA, FINA (Natação) e IAAF (Atletismo). Desta forma, como se trata de um campeonato continental e não mundial, a punição não será estendida. A Rússia está atualmente no grupo H do torneio com Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Chipre e Malta e com a primeira partida marcada para 23 de abril de 2021. 

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