Variante graciosa da natação, Nado Artístico é um dos esportes aquáticos e femininos em Tóquio, sem participação brasileira

Foto de capa: Rebeca Doin 

Por Júlia Nascimento 

“Balé aquático”. Assim era e ainda pode ser conhecido o nado artístico, chamado de nado sincronizado até 2017. Registros datam as primeiras competições no ano de 1891, em Berlim, capital alemã. Mas um nome específico foi fundamental para o real início do esporte: a australiana Annette Kellerman. Supercampeã na natação, ela decidiu buscar novos desafios e foi para a Europa no início do século XX. Chegando lá, mais especificamente na Inglaterra, realizou performances em um tanque de vidro, apresentações essas que foram gerando curiosidade e ganhando notoriedade. Em seguida, foi para os Estados Unidos e entrou para uma equipe de espetáculos aquáticos, com a qual rodou o mundo.  

Foto: Reprodução

Na época, os homens chegaram a participar com frequência, mas a prática foi diminuindo nesse gênero até a modalidade se tornar exclusiva das mulheres (apenas ela e a ginástica rítmica são, totalmente, femininas em Jogos Olímpicos). Já a formalização do nado artístico teve início com a professora norte-americana Katherine Curtis. Ela abriu um centro de formação, onde diversos movimentos padronizados surgiram, além de coreografias com fundo musical em 1920, nas quais as atletas formavam figuras na água através de seus movimentos. Anos depois, em 1939, o também professor norte-americano Frank Havlicek propôs algumas regras para a execução das coreografias. 

Vale destacar a importância de um fator curioso para a disseminação do esporte: o cinema. Isso por conta das atuações de Esther Williams, tricampeã de natação que realizou diversos musicais de grande sucesso e acabou sendo considerada um símbolo do nado artístico. Entre as décadas de 1940 e 1950, os Estados Unidos e a Europa passaram pela popularização da modalidade.  

Esther Williams – Foto: Reprodução/Matéria Incógnita

Regras 

Assim como os saltos ornamentais, o nado artístico é repleto de especificidades e detalhamentos em sua execução e, consequentemente, na hora do julgamento pelos juízes responsáveis. As equipes são compostas por nove atletas. Confira, a seguir, as principais regras da modalidade de acordo com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e a Federação Internacional de Natação (Fina):  

– As atletas apresentam uma coreografia na piscina, utilizando acompanhamento musical e sendo avaliadas em diferentes quesitos por três painéis de cinco juízes cada. 

– Cada painel de juízes é responsável por avaliar um quesito: execução, impressão artística e dificuldade das coreografias. Assim, ao final das avaliações, as notas são somadas e uma pontuação é atribuída à rotina. 

– As provas da etapa preliminar são organizadas em duas apresentações diferentes: a rotina técnica e a rotina livre. Na etapa final da competição, as atletas devem apresentar apenas uma rotina livre. 

– Ao final de cada apresentação, as piores e as melhores notas atribuídas pelos juízes de cada painel são descartadas. Assim, a nota resultante é somada às outras duas para se chegar à pontuação final da rotina. 

– Após as apresentações, a nota final para cada país é atribuída a partir da soma das notas contabilizadas pelas duas rotinas, a técnica e a livre. 

– São descontados pontos em caso de não apresentação de um elemento obrigatório na rotina técnica, toque no fundo da piscina ou demora na apresentação fora d’água. 

Como mencionado, há dois tipos de provas, as “rotinas”: na técnica, as atletas precisam apresentar aos juízes uma lista de elementos obrigatórios em até dois minutos e 20 segundos para as duplas e dois minutos e 50 segundos para as equipes; na livre, não há restrições quanto aos elementos coreográficos, e o tempo para execução é maior, de até três minutos para os duetos e quatro minutos para as equipes. 

Já os movimentos básicos do nado sincronizado, ou as “normas”, são: ação em cadência, em que as atletas devem realizar movimentos idênticos, uma a uma, de modo a formar um “efeito cascata”; alçada de tronco, que consiste em uma subida rápida da atleta até a superfície da água, com a cabeça emergindo antes do restante do corpo e em posição vertical; Can Can, em que a atleta permanece deitada na superfície da água com uma perna levantada perpendicularmente ao corpo; carpa de frente, em que os quadris são flexionados em ângulo de 90º com as pernas no nível da superfície e o resto do corpo imerso; flamingo, com o corpo na horizontal, o quadril um pouco imerso, uma perna estendida na superfície e a outra flexionada junto ao peito; e guindaste, que consiste em a atleta ficar com o corpo ereto, sustentando as duas pernas na superfície com as duas estendidas fazendo 90º.  

Centro Aquático de Tóquio, local de competição do nado artístico, natação e saltos ornamentais – Foto: Reprodução/Fina 

Olimpíadas 

A estreia em competições de nível mundial ocorreu em 1948 nas Olimpíadas de Londres. Mas foi na edição seguinte, em Helsinque 1952, que a Federação Internacional de Natação (Fina) oficializou as regras do esporte. Só que o famoso “status olímpico” só foi recebido em Los Angeles 1984, com as provas de solo e dueto. Houve um hiato da modalidade em Jogos, pois as duas provas saíram do programa em Atlanta 1996 para a entrada da equipe. No entanto, em Sydney 2000, o dueto foi retomado.  

Ona Carbonell, maior medalhista do nado artístico – Foto: Reprodução

Canadá e Estados Unidos dominaram as medalhas de ouro em Mundiais e Olimpíadas até 1996. Contudo a Rússia entrou de vez no cenário a partir do Mundial de Perth em 1998. Todos os ouros olímpicos de Sydney 2000 em diante foram russos, além de ter sofrido uma única derrota em Mundiais a partir do de 1998. Svetlana Romashina é o grande nome russo da história, com 21 títulos mundiais e cinco ouros olímpicos. Porém a atleta com mais medalhas mundiais é a espanhola Ona Carbonell, com 22, além de uma prata e um bronze olímpicos.  

Foto: Reprodução/Olimpíada Todo Dia 

Brasil 

O Brasil estava representado quando o nado artístico se tornou de fato uma modalidade olímpica, em Los Angeles 1984. Quem carregou a bandeira brasileira foram duas irmãs, Paula e Tessa Carvalho, na época com 19 e 17 anos respectivamente, competindo no solo e no dueto e terminando em 11º lugar. Aliás, o país havia marcado presença em todas as disputas de dueto da história olímpica, com exceção da edição de Atlanta 1996, quando as brasileiras apenas disputaram por equipes. 

Em Tóquio 

Apesar do histórico de presença garantida nos Jogos Olímpicos, o Brasil não conseguiu classificação em duetos pela primeira vez desde Atlanta e não irá para Tóquio. Laura Micucci e Luísa Borges chegaram à final do Pré-Olímpico Mundial de Nado Artístico no último domingo (13/06), em Barcelona, na Espanha, mas terminaram em 12º lugar e ficaram de fora das nove vagas olímpicas disponibilizadas. Na final, as brasileiras apresentaram uma boa série ao som de rock, saindo do comum para a modalidade. Porém os pontos conquistados não foram suficientes para que subissem de posição e classificassem.  

Os países garantidos em Tóquio pelo Pré-Olímpico são: Japão, Comitê Olímpico Russo, China, Ucrânia, Canadá, Austrália, Egito, Itália, Espanha e Grécia competindo por equipes; nos duetos, os dez países anteriores mais África do Sul, Cazaquistão, México, Grã-Bretanha, Áustria, Países Baixos, Belarus, Estados Unidos, França, Israel, Liechtenstein e Colômbia. 

Crédito: Thalis Nicotte

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